

Rússia e França seriam os países que receberiam do Irã 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% e os devolveriam com 20%. Depois de idas e vindas, Ahmadinejad se disse favorável à ideia, desde que a troca fosse “simultânea” ? o que tornaria sem sentido o arranjo, concebido para evitar que o Irã acumule estoques de urânio passível de preparo para usos militares. As reiteradas garantias iranianas sobre a natureza pacífica de seu programa nuclear foram sistematicamente desmentidas por suas trapaças diante das inspeções da ONU em suas instalações. No ano passado, o Ocidente denunciou que o Irã construía clandestinamente uma planta nuclear nas montanhas próximas de Qum.
“As evidências não corroboram as alegações iranianas”, resumiu a secretária de Estado Hillary Clinton, ao fim de um giro de três dias pelo Golfo Pérsico, destinado a buscar apoio árabe às sanções pretendidas ? e a persuadir a Arábia Saudita a substituir o Irã como fornecedor de petróleo à China. A dependência chinesa de combustível iraniano é apontada como uma das principais razões por que Pequim tem se negado a concordar com a imposição de sanções adicionais, a pretexto de serem contraproducentes. De fato serão, se não tiverem o apoio unânime das grandes potências. Pelas avaliações diplomáticas, se a proposta passar no Conselho de Segurança com a abstenção da China, o resultado será quase tão negativo como o de um veto chinês. Mas, se a Rússia aceitar o plano, os chineses poderão aderir a ele na undécima hora para não se verem isolados entre os grandes.
De todo modo, a ofensiva diplomática americana se intensifica. A chanceler Hillary Clinton adverte que o Irã caminha para se tornar uma “ditadura militar”, numa alusão aos superpoderes da Guarda Revolucionária, a força repressiva de 150 mil homens que funciona como um Estado dentro do Estado iraniano. Controla, por exemplo, o programa nuclear do país. A Guarda não responde ao presidente, mas ao líder supremo da teocracia, o aiatolá Ali Khamenei. A organização é o principal alvo das novas sanções desejadas pelos EUA. Além da China, outro país também se manifesta seguidamente contra as punições e insiste que as portas não se fecharam de todo a um acordo sobre o reprocessamento de urânio, que poderia ser alcançado graças à sua oferecida mediação. Esse país, naturalmente, é o Brasil. Mas a sua oferta parece ecoar apenas em Teerã ? não para valer, decerto, mas para dar ao Itamaraty a ilusão de ser um interlocutor global.
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